A inauguração da ponte sobre o rio Madeira, a qual liga os distritos de Abunã, Vista Alegre do Abunã, e ao mesmo tempo proporciona mais comodidade para quem precisa chegar (ou voltar) do Acre foi uma vitória comemorada pela população que compõe toda da região norte do Estado de Rondônia e os acreanos. Trata-se de uma obra que era esperada há décadas. Quem afirma são os pioneiros da região, pessoas que cresceram, casaram-se, constituíram família, muitos já se aposentaram e outros passaram a vida ouvindo anunciações da tão esperada obra, mas infelizmente morreram sem poder ver o resultado de uma espera coletiva que vai economizar horas no aguardo para a travessia.
Com passos lentos, devido a idade já avançada, o ex-soldado da borracha, Zacarias Batista da Silva, de 84 anos, diz que sua vida se resume à Ponta do Abunã, como é conhecida toda a região. Nascido abaixo de Mutum Velho, ele foi um dos inúmeros trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e afirma que desde muito jovem ouvia políticos prometerem a obra, mas sua concretização ficava apenas no âmbito da esperança.
O pecuarista José Fortunato de Lima, 60 anos, o “Paraíba”, como é conhecido na região, diz que a obra, segundo sua própria definição, agiliza a vida do cidadão. “Pra ir a Vista Alegre e voltar, a gente chegava a esperar três horas pela balsa no tempo da seca. Agora com a ponte temos mais agilidade para resolvermos nossas coisas”, comenta.
A “inauguração” da ponte para o Paraíba está prevista para a segunda-feira (10), quando ele pretende atravessá-la até Vista Alegre do Abunã para buscar peças adquiridas no comércio local.
De Xapuri (AC), a servidora aposentada Damiana Magalhães Soares, “Mica” como é conhecida, desembarcou em Abunã aos 13 anos de idade, junto com oito irmãos e os pais em busca de uma vida melhor. Aos 18 anos ela se casou com o comerciante Sebastião Mota Soares, que morreu em decorrência da covid-19 há pouco mais de 40 dias. Ainda enlutada pela perda, Mica relembra com muita emoção a expectativa que a família, principalmente Sebastião, tinha pela inauguração da obra. “Isso vai facilitar muito nossas vidas. Desde sempre eu ouvia histórias sobre a construção da ponte, mas ela nunca acontecia. Finalmente ela virou uma realidade e estamos muito satisfeitos”, conta.
A vigilante Ivanilce de Souza Andrade, nascida e criada em Abunã, mas atualmente morando em Porto Velho, conta que sua história ganha um novo sentido com o término da obra. Ela se viu obrigada a deixar o distrito onde sempre viveu após o frigorífico da região, um dos poucos postos de trabalho para a população, encerrar as atividades. O valor pago pelos caminhões na travessia da balsa aumentava o custo da produção, dificultava o transporte das cargas e principalmente o deslocamento de profissionais.
Ela conta que, com a construção da ponte, a população está na expectativa da reabertura do frigorífico. “São mais empregos; os proprietários falavam que tinham interesse em montar um setor de desossa e isso pode melhorar a vida das famílias que moram por aqui”, diz.
A região do Abunã vive quase que exclusivamente do extrativismo. Os garimpos são fontes de renda de diversas famílias, bem como a atividade madeireira. A pecuária também tem sua parcela de contribuição e a agricultura está se fortalecendo.
Cálculos fornecidos pelo Governo Federal apontam que a travessia do rio Madeira entre os distritos de Abunã e Vista Alegre do Abunã rendiam uma arrecadação média de R$ 100 mil ao dia ao dono da balsa que prestava o serviço. O tempo de espera, segundo os moradores, varia de acordo com a época do ano. Em tempos de seca pode levar pelo menos três horas. Os bancos de areia dificultam a navegação e tornam o processo mais lento. Em tempos de chuva, o nível do rio está mais alto e agiliza a travessia.
Com os relatos, o governador Marcos Rocha se emocionou com as histórias e comentou ser gratificante presenciar momentos históricos e poder contribuir com a melhoria da vida das pessoas. “Essa ponte vai garantir o desenvolvimento e o progresso da região. Além de ser um anseio da comunidade que há décadas esperava por isso, também se torna ferramenta de progresso socioeconômico. Todo mundo sai ganhando com esta obra”.
Fonte: RSecom/Gente de Opinião
Foto capa: Diário da Amazônia