Patrimônio histórico é materialização da identidade coletiva da sociedade, afirma historiador Marco Teixeira
É com muita alegria que vamos reprizar uma matéria do site Focas do Madeira, publicada no dia 19 de junho de 2016. Ela fala dos patrimônios históricos tombados em Rondônia e a falta de conservação de grande parte dele. Importante ressaltar, porém, que a matéria retrata a realidade da época. Vale a pena embarcar nessa viagem e conhecer um pouco mais da história de Rondônia.
Na Candelária, sucata de locomotivas são o reflexo da atenção do poder público com a história (Foto: Marcela Ximenes/Focas do Madeira) |
O Patrimônio Histórico é tombado com o objetivo de preservação, passam pelo processo de tombamento os bens de interesse da comunidade, por seu valor histórico, arquitetônico, artístico ou ambiental. Porto Velho possui sete monumentos tombados pelo estado de Rondônia: a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (e todo seu acervo), as Três Caixas d’Água, Porto Velho Hotel (atualmente reitoria da Universidade Federal de Rondônia), a Castanheira do Estádio Aluízio Pinheiro Ferreira, o Museu do Presépio, o Prédio da Administração Central da Estrada de Ferro Madeira- Mamoré e a Capela de Santo Antônio de Pádua.
De acordo com o professor e historiador Marco Teixeira, o patrimônio histórico é uma materialização de uma identidade coletiva, “Os tombamentos dão referência àquilo que fala coletivamente a sociedade sobre o seu passado”, diz ele. Tombar significa estar registrado em um livro de tombo. Segundo Teixeira, o tombamento de bens históricos é comum a partir da Revolução Francesa.
A historiadora Yedda Borzacov foi a técnica responsável por todos os processos de tombamentos dos patrimônios históricos em Porto Velho. De acordo com ela, a comunidade deve ter consciência da significação e da importância desse patrimônio cultural e as autoridades responsáveis pela preservação não podem ficar omissas. “O patrimônio histórico material de Rondônia precisa de restauração, acho que todos estão desprezados, renegados ao esquecimento há muito tempo […] Não há ações de restauração e no futuro Porto Velho vai ser uma cidade totalmente desprovida de memória”, avalia a historiadora.
Segundo a diretora do museu do Palácio da Memória, Ednair Nascimento, a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel) faz a jardinagem e limpeza da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, com relação à Capela de Santo Antônio de Pádua há manutenção continua.
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré
A E.F.M.M é considerada como marco do nascimento de Porto Velho (Foto: Ana Kézia Gomes/ Focas do Madeira) |
A ferrovia foi responsável pelo primeiro impulso para o surgimento de Porto Velho e, consequentemente, de Rondônia. A construção da Madeira-Mamoré, entre 1907 e 1912, intensificou o fluxo migratório e imigratório para a região. O grande empreendimento no meio da selva amazônica tinha o objetivo de ligar o Brasil e a Bolívia ao Oceano Atlântico, visando escoar a produção de borracha. O transporte pelo rio era cheio de dificuldade devido as diversas cachoeiras.
De acordo com o livro Porto Velho 100 anos de história, da professora e historiadora Yedda Borzacov, nenhum estudo sobre a história de Porto Velho poderá ser feito sem citar essa ferrovia, que está intimamente ligada à criação da cidade e as memórias de seu povo: “Era o transporte terrestre a vapor, era a locomotiva, era a ferrovia, era o progresso que roronava, que fumegava, que corria.”
Todo o acervo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré também foi tombado pelo Estado de Rondônia, entre eles constam o Cemitério da Candelária, o Cemitério dos Inocentes, o local da antiga cidade de Santo Antônio do Alto Madeira, o prédio da Cooperativa dos Seringalistas e o Marco das Coordenadas Geográficas da Cidade de Porto Velho.
Caixas d’Água
As Três Caixas D’água são o símbolo histórico na bandeira de Porto Velho (Foto: Ana Kézia Gomes/ Focas do Madeira) |
As Caixas d’Água foram tombada em 26 de dezembro de 1988. Elas foram instaladas para melhorar o processo de abastecimento e distribuição de água em Porto Velho durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Segundo a historiadora Yedda Borzacov, em 1910 a primeira caixa d’água foi instalada e apenas em 1912 a companhia construtora da ferrovia instalou as outras duas.
As Três Caixas d’Água têm capacidade total de 1.362.731 litros e sua instalação completa custou mais de 63 milhões em moeda da época. Elas foram as responsáveis pelo abastecimento da cidade até a desativação em 1957.
Porto Velho Hotel
O Porto Velho Hotel é atualmente a Universidade Federal de Rondônia (Foto: Ana Kézia Gomes/Focas do Madeira) |
O Porto Velho Hotel foi tombado em 29 de novembro de 1988, atualmente funciona em suas instalações a Reitoria da Universidade Federal de Rondônia (Unir). O Porto Velho Hotel, inaugurado em 1953, foi construído para substituir o casarão pinho-de-riga- Hotel Brasil, que por mais de 40 anos era o único hotel em Porto Velho.
De acordo com a historiadora Yedda Borzacov, a ampla varanda do Porto Velho Hotel se transformava em um palco natural, onde cantores famosos se apresentaram entre eles Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves e Bevenildo Granda. Além disso, o hotel ficou conhecido nos anos 70 pelas grandes festas beneficentes realizadas pelo Rotary Club.
Com a instalação de hotéis privados na cidade, o Porto Velho Hotel foi desativado em 1974, em 1979 foi denominado “Palácio das Secretarias”, nesse período, o prédio passou por uma reforma e recebeu novas janelas e um auditório.
Castanheira
A Castanheira localiza-se na rua Rui Barboza, bairro Arigolândia (Foto: Ana Kézia Gomes/ Focas do Madeira) |
A castanheira foi tombada pelo Patrimônio Histórico Cultural, Artístico e Paisagístico do Estado de Rondônia em 1985 e compõe o estádio Aluízio Ferreira. Segundo a historiadora Yedda Borzacov, um dos primeiros relatos sobre a castanheira é de 1945, quando o guarda territorial aposentado Inácio José de Lira chegou a Porto Velho e a árvore já possuía cerca de cinco metros de altura.
Museu do Presépio
O Museu do Presépio foi tombado em 2002 (Foto: Ana Luiza Moreira/G1) |
O Museu do Presépio foi tombado em 2002, o museu reúne cerca de duas mil peças de arte sacra. No livro Porto Velho 100 anos de história, Yedda Borzacov explica que o Museu do Presépio não é um museu fragmentado, nem é um museu estático. “A função desse museu não é acumular peças, mas fazer com que elas, na nudez aparente, falem, digam o que foram, mostrem conteúdos artísticos e culturais diante dos estudantes, dos visitantes, dos pesquisadores”.
Prédio da Administração Central da EFMM
O antigo prédio da Administração Central Madeira-Mamoré é conhecido como Prédio do Relógio (Ana Kézia Gomes/ Focas do Madeira) |
O Prédio da Administração Central da Estrada de Ferro Madeira- Mamoré foi inaugurado em 1950, e baseado no formato de uma locomotiva, a torre do prédio contém um relógio, de acordo com a historiadora Yedda Borzacov, durante anos esse relógio foi o guia de horário para a população de Porto Velho, por isso é conhecido popularmente como prédio do relógio.
Em 1981 no prédio foi instalada a presidência do Banco do Estado de Rondônia (Beron), em meados de 1996 foi sede da Fundação Cultural de Turística (Funcetur), nos anos 2000 o prédio foi restaurado, para a instalação da Biblioteca Pública Estadual Dr. José Pontes Pinto, o Centro de Documentação Histórico, os Museus do Estado de Rondônia e o Geológico. Em 2003 o prédio foi ocupado pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer e a Superintendência de Turismo (Setur). Atualmente, o local aguarda passar por uma reforma e reestruturação continua sendo a sede da Setur.
Capela Santo Antônio de Pádua
Capela Santo Antônio de Pádua localiza-se no km 7 da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (Foto: Marcela Ximenes/ Focas do Madeira) |
A capela foi tombada em 3 de dezembro de 1986, é a primeira capela construída no estado de Rondônia e se diferencia de uma igreja por não possuir pia batismal. Segundo o historiador Aleks Palitot, com a erradicação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em 1972, os prédios que resistiram ao desgaste provocado pela natureza foram demolidos, restando apenas um casarão e a Capela de Santo Antônio de Pádua.
Pauta e texto: Ana Kézia Gomes
Edição: Marcela Ximenes
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