A obra é resultado de mais de três décadas de pesquisas arqueológicas na região amazônica
Apesar de o mundo olhar com apreensão e interesse para o Brasil graças à Amazônia, a história milenar e a importância da floresta para a preservação da vida do planeta ainda são desconhecidas. Em plena crise ambiental e social – em que os ação da vida do planeta ainda são desconhecidas. povos indígenas, na tentativa de salvar a floresta, estão sendo ameaçados e em que a comunidade internacional protesta contra o recente assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, a história da Amazônia é contada em detalhes no livro Sob os Tempos do Equinócio – Oito Mil Anos de História na Amazônia Central, do arqueólogo e professor da USP Eduardo Góes Neves.
Publicada pela Editora da USP (Edusp) e Ubu Editora, a obra é resultado de mais de três décadas de pesquisas arqueológicas na região amazônica feitas por Neves e sua equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP. “A história deste lugar chamado Brasil começa em 22 de abril de 1500. No entanto, numa estimativa conservadora, os ancestrais dos povos indígenas vivem aqui há mais de 12 mil anos”, escreve Neves na introdução. “Este livro busca contar uma parte dessa história, apresentando uma síntese do que se sabe dos 8 mil anos de ocupação indígena da Amazônia Central. Buscarei ainda desdobrar a discussão para outros contextos da arqueologia das terras baixas da América do Sul.”
Com uma linguagem clara e objetiva, o professor leva os leitores e leitoras para os lugares que pesquisou. O texto flui na expectativa de ser de interesse não só para os especialistas e estudiosos da arqueologia, mas para todos que acompanham a história dos povos indígenas e a luta pela preservação da Amazônia.
“De fato, a situação atual na Amazônia é trágica. Durante todo o período em que pesquisei e trabalhei na região, nunca vi um estado de coisas como este”, relata Neves, em entrevista ao Jornal da USP. “Espero que o livro mostre para o público um pouco da riqueza e da beleza da história antiga dos povos indígenas que vivem há milhares de anos na Amazônia e em todo Brasil. Uso o termo ‘história antiga’ porque considero ‘pré-história’ um conceito anacrônico para nós, na América Latina. Vivemos em uma época na qual, infelizmente, o negacionismo científico tem prosperado, inclusive com apoio de autoridades. Minha esperança é que o livro funcione como um antídoto.”
O livro reproduz a tese de livre-docência defendida por Neves na USP em 2013. Apresenta objetivos distintos, porém relacionados. O primeiro deles é trazer, com detalhes, a reconstituição histórica da ocupação humana da Amazônia Central. Uma pesquisa que investiga acontecimentos de 10 mil anos atrás, até os primeiros momentos da colonização europeia, no século 16. O segundo objetivo é utilizar os dados e hipóteses da Amazônia Central para discutir temas semelhantes presentes em outros contextos da arqueologia das terras baixas da América do Sul. “A premissa, nesse caso, é que o potencial e as limitações da arqueologia da Amazônia Central não são exclusivos dessa área, mas têm uma relevância que vai além do contexto regional.” O terceiro objetivo é contribuir para o debate teórico e metodológico da arqueologia brasileira
As 224 páginas do livro propiciam a reflexão, o pensamento crítico e o questionamento sobre o Brasil, a Amazônia, a arqueologia e a história que nos foi contada. Eduardo Góes Neves assinala: “É comum que se pense que a arqueologia estuda o passado, mas essa ideia é incorreta. A arqueologia estuda fenômenos do presente e outros tipos de registros que viajaram pelo tempo, às vezes por milhões de anos, até os dias de hoje. Essa não é apenas uma distinção semântica. Ela define de saída quais são as possibilidades e limitações que a arqueologia oferece para o conhecimento do passado. O passado é um país estrangeiro, um território estranho, ao qual jamais poderemos retornar”.
O leitor e a leitora podem começar a explorar Sob os Tempos do Equinócio: Oito mil Anos de História na Amazônia Central pelas orelhas do livro. O texto é da jornalista gaúcha Eliane Brum, também moradora da floresta, em Altamira, no Pará, um dos municípios com grave índice de desmatamento, segundo levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).Brum escreve com a lucidez e coragem de sempre: “O Brasil é a periferia da Amazônia – isso os menos estúpidos entre os humanos já perceberam. Não fosse por abarcar em seu território 60% da maior floresta tropical do mundo, insubstituível no enfrentamento do colapso climático, o Brasil atual seria apenas um país marcado por brutal desigualdade, racista até a medula e, com frequência exasperante, às voltas com a ameaça de um golpe capitaneada por algumas das
mentes mais medíocres.
Fonte: Rondoniaovivo
Com informações do Jornal da USP