A exposição Arqueologia e diversidades: 10 mil anos de história no Rio Madeira foi aberta na manhã da terça-feira (27) e inaugurou oficialmente a Reserva Técnica Arqueológica do curso de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia (Unir), no Campus de Porto Velho. A partir de agora, o espaço estará aberto ao público em geral para visitação de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h, no Prédio 4E (próximo ao Ginásio Tatuzão).
Muito aguardada pela comunidade acadêmica, a Reserva Técnica (RT) é o local de guarda e de exposição das coleções arqueológicas da Unir, um espaço que será utilizado tanto para pesquisa e ensino, na formação dos acadêmicos da universidade e de outras instituições, como também em atividades de extensão para o público em geral. Estudantes de escolas públicas e particulares, acadêmicos, pesquisadores e demais pessoas da comunidade interessadas no assunto podem visitar a exposição para saber mais sobre a história das ocupações ao longo do Rio Madeira.
“Todo aluno para se formar em arqueologia precisa ter uma pesquisa na área e, até agora, 100% dos trabalhos foram sobre materiais arqueológicos de Rondônia. Então, além de formar pesquisadoras e pesquisadores, estamos disponibilizando para a sociedade científica e sociedade civil, por meio das exposições [e da RT], um conhecimento novo sobre a região, fundamentado nas evidências arqueológicas”, disse o chefe do Departamento Acadêmico de Arqueologia (Darq), professor Carlos Zimpel.
A construção do prédio da Arqueologia foi realizada por meio de termo de cooperação técnica entre a Santo Antônio Energia, Energia Sustentável do Brasil, Unir, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Advocacia Geral da União (AGU), como medida de compensação para guardar os materiais arqueológicos dos sítios que foram extintos com a construção das usinas. O evento de inauguração contou com a presença de representantes dessas instituições, além de docentes, discentes e técnicos administrativos de diversas unidades e departamentos acadêmicos da Unir.
“Essa parceria entre as entidades ressalta a importância do cuidado com o patrimônio histórico e cultural de Porto Velho e da região. Além de apoiar a construção do prédio e a entrega dos artefatos arqueológicos, a Santo Antônio Energia investiu na preservação do patrimônio histórico e estabeleceu parcerias com a universidade para o desenvolvimento sustentável da região amazônica e o resgate e preservação da nossa história”, disse o diretor de Operações da Santo Antônio Energia, Dimas Maintinguer.
Sobre a exposição
A exposição Arqueologia e diversidades: 10 mil anos de história no Rio Madeira foi concebida por professores, técnicos e alunos do curso de Arqueologia, com curadoria da professora Silvana Zuse, do Darq/Unir. O objetivo é apresentar a profunda história das comunidades, especialmente as indígenas, que viveram nesta região próxima ao rio Madeira ao longo dos últimos 10 mil anos.
Silvana explica que há muitos vestígios de ocupações bastante antigas na Amazônia, mas “o interessante dessa região do Rio Madeira é que ela foi ocupada continuamente ao longo desses últimos 10 mil anos. Enquanto em outras regiões houve um hiato, essa aqui nunca foi abandonada”.
Além disso, segundo a professora, há uma diversidade enorme de vestígios encontrados que evidenciam uma diversidade cultural também muito antiga na região, percebida pelos pesquisadores ao analisar os artefatos. “Há muitos modos de fazer os utensílios e esses modos são tradicionais, pois foram transmitidos ao longo das gerações e são relacionados a diferentes povos indígenas que ocuparam essa região. No período de ocupação mais antigo, de 10 mil anos, temos a predominância de materiais feitos de rocha lascada, depois, a partir de 4 mil anos atrás, temos a cerâmica, e num determinado momento, principalmente de dois mil anos atrás, a gente começa a ver que vários povos estavam ocupando essa região porque tem sítios arqueológicos com materiais associados a diferentes culturas”, explica Silvana.
Ana Gabriele Silva, acadêmica do 5º período de Pedagogia, prestigiou a exposição e disse que foi muito interessante perceber os vários elementos da cultura local que foram resgatados durante as escavações e agora estão permanentemente preservados na Unir: “Vi que tem vários elementos históricos expostos. Isso colabora com a nossa formação, pois é a história da nossa cidade que está sendo valorizada. Trazer elementos que vêm do rio Madeira e que tem um significado pra gente, que é rondoniense, é muito importante”.
Acervo e pesquisas
Os cerca de 800 mil artefatos arqueológicos salvaguardados na reserva técnica foram encontrados em escavações realizadas por pesquisadores da Unir entre 2009 e 2013, principalmente, durante a construção das hidrelétricas no Rio Madeira, e em outros trabalhos de pesquisa. “Temos diversas coleções de artefatos como a da BR 429, a do linhão Porto Velho-Araraquara (SP), dos sítios escolas, da ampliação da adutora da Caerd e de doações da comunidade”, lembra a professora, Evânia Lima de Barros, museóloga da Unir.
Entre os achados estão fragmentos de rochas e de cerâmicas indígenas, vasos, urnas funerárias, louças, garrafas e inúmeros outros objetos do período colonial, pré-colonial e outros mais recentes, que ajudam a contar a história da região.
A partir das análises dos materiais coletados, os pesquisadores conseguiram evidenciar os vestígios de uma história bastante antiga de ocupação desta parte da Amazônia, marcada por grande diversidade cultural e também por muita luta.
“Muito do que conhecemos hoje, desde plantas domesticadas até certos costumes e modos de fazer, são dos povos originários, e apesar de todo o impacto provocado pelo colonialismo, os povos indígenas têm trazido demandas para a Arqueologia, para que ela cumpra seu papel social de auxiliá-los nas suas reivindicações em relação à preservação da cultura material e dos sítios arqueológicos”, concluiu Silvana afirmando que a universidade vem tentando atender a essas solicitações por meio da pesquisa acadêmica.
Visitas guiadas
A exposição Arqueologia e diversidades: 10 mil anos de história no Rio Madeira permanecerá aberta ao público em geral durante todo o ano de 2023, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h.
Para agendamento das visitas guiadas e em grupos é necessário entrar em contato por meio do site www.rtdarq.Unir.br, pelo e-mail rtdarq@Unir.br ou diretamente pelo preenchimento do formulário disponível neste link.
Nas visitas guiadas, o público é conduzido por meio de um roteiro sugerido e da mediação com abordagem participativa. A intenção é provocar reflexões sobre os conhecimentos, os métodos e práticas arqueológicas, interpretações e memórias locais, as mudanças ocorridas na paisagem, a utilização dos artefatos e a simbologia desses objetos, buscando promover a preservação e a gestão do patrimônio arqueológico.
Fonte: Rondoniagora